terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sugestões de leitura com espírito de Halloween

Aproxima-se a passos largos a noite mágica do Halloween, também conhecida como noite das bruxas.

O dia das bruxas, é festejado na noite de 31 de Outubro e teve origem nos antigos povos da Grã-Bretanha e Irlanda, que acreditavam que, na véspera do Dia de Todos os Santos, os espíritos voltavam para as suas casas. Levado para os Estados Unidos pelos colonizadores, o Halloween é, hoje em dia, uma das festas mais populares do país, e também em Portugal já vai ganhando raízes.

No nosso país é sobretudo uma noite para as crianças onde reina a fantasia e a imaginação.

Como para muitos dos nossos leitores este será um fim-de-semana prolongado, e o tempo já convida a serões frente à lareira, nada melhor do que a companhia de um bom livro. Aqui ficam as nossas sugestões:

Anne Rice é uma autora consagrada de best-sellers, na área da literatura de fantasia e gótica. Alcançou a notoriedade com Entrevista com o Vampiro, A Rainha dos Malditos e A Hora das Bruxas, entre outros êxitos.

Obras da autora na Biblioteca:

• Entrevista com o vampiro
• História do Ladrão do corpo
• Lasher
• Merrick
• A hora das bruxas
• Rainha dos malditos

Marion Zimmer Bradley nasceu em Nova Iorque, em 1930. Começou desde cedo a escrever para revistas e antologias, mas foi na década de 60 que iniciou uma carreira de sucesso como romancista. A sua série mais popular iniciou-se com a publicação de As Brumas de Avalon, uma recriação da lenda arturiana que tem conquistado gerações. Faleceu em 1999.

Obras da autora na Biblioteca:

• A casa da floresta
• Salto mortal
• As brumas de Avalon
• A Fonte da Possessão : O Poder Supremo
• As Forças do Oculto
• A Senhora de Avalon
• Tambores na noite
• As mulheres da casa do Tigre
• A queda da Atlântida

Stephenie Meyer nasceu na véspera de Natal, em Hartford, Connecticut, mas vive em Phoenix, no estado do Arizona desde os quatro anos de idade. Licenciou-se em Literatura Inglesa, pela Brigham Young University. Após a publicação do seu primeiro romance, Twilight, Stephenie Meyer foi considerada "como uma das mais promissoras novas escritoras de 2005" (Publishers Weekly).

Obras da autora na Biblioteca:

• Nómada
• Crepúsculo
• Lua Nova
• Eclipse
• Amanhecer
Outras sugestões:

Histórias de Vampiros. Lisboa : Editorial Estampa, 1988.
BAROJA, Júlio Caro - As bruxas e o seu mundo. 1ª ed. Lisboa : Vega, [19-?].
BRITO, Farias - O mundo interior : ensaio sobre os dados gerais da filosofia do espírito. 3ª ed. Lisboa : Imp. Nac.-Casa da Moeda, 2003. ISBN 972-27-1285-3
KILPATRICK, Nancy - Vampiros. 1ª ed. [Vila Nova de Gaia] : Rosto, 2011. ISBN 978-989-8520-02-9
MAUSS, Marcel - Esboço de uma Teoria Geral da Magia. Lisboa : Edições 70, D.L. 2000. ISBN 972-44-1049-8
PAIVA, José Pedro - Bruxaria e Superstição : Num Pais Sem «Caça as Bruxas» 1600-1774. 1ª ed. Lisboa : Noticias, 1997. ISBN 972-46-0882-4
PAIVA, José Pedro - Práticas e crenças mágicas : o medo e a necessidade dos mágicos na Diocese de Coimbra (1650-1740). 1ª ed. Coimbra : Livraria Minerva, 1992. ISBN 972-9316-38-4
STOKER, Bram - Drácula. Mem Martins : Europa-América, D.L. 1994. ISBN 972-1-03551-3

Leia, porque ler é um prazer!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Divulgando o fundo local XV: Assim vivo!...

Assim vivo!... de António Mota

António Pires Fernandes Mota nasceu em Arganil a 8 de Agosto de 1927 e faleceu a 9 de Novembro de 1981, vítima de um acidente enquanto andava na caça, modalidade da qual era grande entusiasta. Trabalhou na “A Comarca de Arganil”, passou pela Mercantil e foi proprietário da mercearia “A favorita da Beira”.

António Mota tinha também o gosto pela palavra e pela poesia, tendo deixado como “herança” aos filhos o seu espólio poético, que foi entregue pela sua esposa Alzira Dias Cruz Pereira a José Ramos Mendes, que os reviu e fez publicar.

Assim em 1995 surgiu o livro Assim Vivo!... onde ao longo de 96 páginas se revela a sensibilidade apurada de António Mota enquanto poeta.

“Poeta da liberdade, a sua palavra ressoou por montes e vales de Arganil, animada pelo espírito guerreiro de quem não teme: «Escravo fui como vós na minha Pátria»!
Como poucos, António Mota soube e quis gritar que a liberdade é a condição primeira de um poeta e que por ela deve lutar até à morte.”1

(1) In Revista Arganilia nº 6/7


Por quem choram os teus olhos?

Oh, os teus olhos,
Que tonalidade têm?
São verdes, pretos, azuis,
Castanhos,
Cor do céu, do mar,
Ou das estrelas?
São olhos que olham nos olhos?
Há os que falam,
Os que riem,
Os que amam,
E os que sofrem!
Há olhos que vertem lágrimas de dor,
Outros que choram de amor!
Há olhos despertos na noite,
Outros fechados no dia,
Olhos que choram os mortos,
Olhos que choram de alegria!
Há olhos que choram por outros olhos,
Por quem choram os teus olhos?!

                             António Mota, 03.06.1978

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dia internacional das Bibliotecas Escolares. Da informação ao conhecimento

 
Da informação ao conhecimento
 
Vivemos no mundo da informação tecnológica. A Galáxia de Gutenberg consistentemente assente na escrita e no suporte papel, cede lugar a uma nova era, a era tecnológica, baseada na informação virtual que inunda totalmente o nosso quotidiano. A sua presença é de tal forma avassaladora que viver fora dela é uma forma de exclusão.

O acesso à informação que as novas tecnologias permitem está ao alcance das nossas crianças, dos nossos jovens, de todos nós em locais públicos e cada vez mais em casa de cada um, nas mais recônditas localidades. No entanto, aquilo a que acedemos é apenas informação. Como transformar essa informação em conhecimento?

Neste processo é fundamental dispor de ferramentas intelectuais que permitam fazer o “caldeamento” da informação recolhendo no “cadinho” da pesquisa e da investigação, o que essa informação acrescentou ao nosso conhecimento.

Na base de todo este processo estão as competências de leitura e de escrita. Sem saber manejar perfeitamente estas ferramentas, não será possível aceder ao mundo da informação com espírito crítico sabendo retirar desta amálgama o que de bom nos interessa para os nossos objectivos. Sem dominar perfeitamente a leitura e a escrita, todo o edifício intelectual fica sem alicerces e facilmente se desmorona.

Neste processo, onde entram as Bibliotecas? Jules Ferry, advogado e político, ministro francês da educação entre 1879 e 1881, que instituiu em França o ensino primário obrigatório, gratuito e laico, escreveu em documentos oficiais que “podemos fazer tudo pela escola, pelos liceus, se não tivermos bibliotecas ainda não fizemos nada”. Sem bibliotecas as nossas escolas ficam amputadas de um elemento essencial para que cumpram com eficácia as suas funções educativas.

A esta frase de Jules Ferry, eu acrescento: no entanto poderemos ter as melhores bibliotecas, com o melhor fundo documental, bem organizadas, dinâmicas e agradáveis. Se não desenvolvermos o hábito, o gosto e o prazer de ler nas nossas crianças, ainda não fizemos nada.

O insucesso e o abandono escolar são um problema com muitas vertentes de causa e efeito: causas económicas, sociais, do nível cognitivo, familiar. Contudo, é também um problema de falta de hábitos de leitura. A criança que termina o 1º ciclo do ensino básico sem dominar perfeitamente a mecânica da leitura e da escrita tem muita dificuldade em acompanhar a maior exigência e complexidade das matérias que vai encontrar no 2º ciclo e se, chegado aí, não conseguir recuperar essas competências então é um potencial candidato ao fracasso escolar.

A criança quando termina o 1º ciclo do ensino básico deve ter atingido níveis muito elevados de competência da leitura. É fundamental que ela esteja em condições de passar do estado de ledor para o estado de leitor. Segundo Edmir Perrotti em “Leitores, ledores e outros afins” (1999), os ledores são «sujeitos que se relacionam apenas mecanicamente com a linguagem, não se preocupando em actuar efectivamente sobre as significações e recriá-las. (…) Os leitores, ao contrário, são seres em permanente busca de sentidos e saberes». Quer dizer que se alcançou um nível muito elevado da mecânica da leitura e que também se adquiriu o hábito, o gosto e o prazer de ler.

Estas competências de leitura vão permitir passar do “como” ao “porquê”. O “como” é o estado bruto em que a informação se nos apresenta. Para que ela se transforme em novos conhecimentos é necessário passar ao “porquê”, estado em que o leitor se interroga sobre o significado da informação que analisa e ao mesmo tempo faz a ligação a outros textos que já leu. O leitor recorre à sua “biblioteca” interior onde tem armazenado o conhecimento adquirido anteriormente: palavras, significados, imagens. Esta intertextualidade, este recorrer à sua biblioteca interior, vai-lhe permitir fazer a ligação à informação que analisa e transformá-la em novos conhecimentos. Isto só acontece porque há já um suporte intelectual preparado para acolher novos conhecimentos.

Todo o processo de transformação da informação em conhecimento está dependente da capacidade de ler, interpretar, sintetizar.

Se não dominar a mecânica da leitura, se não lê habitualmente, terá mais dificuldade em dominar o texto escrito. Por outro lado se ao longo da sua vida não teve um contacto intenso com a leitura, principalmente a leitura literária, o seu vocabulário é muito reduzido. A pobreza vocabular e a falta de um percurso de leitura impede a organização objectiva das ideias e a capacidade de fazer a síntese, o que se traduz num empobrecimento do trabalho intelectual que pode ser determinante para a exclusão do indivíduo nesta sociedade de informação tecnológica.

Tudo isto a propósito do Dia Internacional das Bibliotecas Escolares. Parceiras fundamentais para as literacias devem ser, nas Escolas, o centro nevrálgico de todas as estratégias para o sucesso escolar.
22 de outubro de 2012 
Margarida Custódio Fróis
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Divulgando o Fundo Local XIV: na ondulação da maré

Na ondulação da maré é o quarto livro editado por Jaime da Costa Lopes, natural da aldeia de Sobral Gordo. Um livro de poesia que se centra na concepção da liberdade do autor e no desejo de acertar contas com a vida.

Jaime Lopes nasceu a 11 de Outubro de 1946. Cedo rumou para Lisboa – Cova da Piedade, trabalhando como marçano numa mercearia. Em 1963 alistou-se como voluntário na Marinha de Guerra Portuguesa, fazendo diversas viagens de serviço sobretudo às antigas colónias. Reformou-se em 2004, quando desempenhava as funções de Patrão-Mor na Capitania de Ponta Delgada, lugar onde escreveu grande parte dos poemas que compõem a obra Na ondulação da Maré.

De acordo com palavras proferidas pelo autor, neste livro “poderão apreciar os três vértices poéticos do meu triângulo mais favorito: o mar, a natureza e, obrigatoriamente, os pedaços desta minha aldeia (Sobral Gordo)”

De acordo com E. S. Tagino, prefaciador do livro, este fala-nos essencialmente de ternura. “Em cada verso, como em cada onda, nós sentimos que o “comandante” que nos guia nesta aventura poética tem um Mundo dentro de si muito maior que esse mundo terreno, em que humanamente se revela. (…) Mundo que está plasmado em palavras de esperança e optimismo que configuram, desde o início, o mais essencial da vida do poeta." 
Os poemas contidos no livro revelam uma coerência estética, quer no conteúdo, quer na forma e em cada poema Jaime Lopes faz uma viagem que começa no mundo exterior, físico e palpável, em direcção a riqueza interior da pessoa, enquanto indivíduo.

Um livro que vale a pena ler e que revela a imensa sensibilidade de Poeta de Jaime Lopes.
Escrever um livro
é viver
à luz das horas íntimas
de momentos espreguiçados
é mergulhar
em vales de melancolia
e ouvir tristes lamentos
que nos faz chegar o vento

Escrever um livro
é escutar
os murmúrios aveludados
do zumbido das letras
que formam palavras
sempre em viagem
sem odor do medo

Escrever um livro
é continuar
vivo para além da morte
depois de entrar na escuridão
e no silêncio desamparado
de um sonho acabado
 
Leia, porque ler é um prazer!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Agustina Bessa-Luís: nome maior da ficção portuguesa contemporânea

Agustina Bessa-Luís comemorou no passado dia 15 de Outubro o seu 90º aniversário. Autora de uma vasta obra, publicou o seu primeiro livro, Mundo Fechado, em 1948. Sibila, uma das suas obras mais famosas, publicada em 1954, representa um importante marco na história da ficção portuguesa, na medida em que rasga com a hegemonia do neo-realismo que durante 15 anos imperou na ficção portuguesa. Sibila, obteve um êxito considerável, tendo sido objecto de sucessivas edições e vários prémios, como o Prémio Delfim Guimarães (1953) e o Prémio Eça de Queirós (1954), que a consagra como nome cimeiro da novelística contemporânea.

Nascida a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã – Amarante, Agustina Bessa-Luís passou a sua infância no Douro. Lugar a que regressou regularmente durante a adolescência e que marcou permanentemente o seu imaginário romanesco.

A partir de 1950 fixou residência no Porto, onde publica o seu primeiro romance, os Super-Homens.

Embora sempre ligada à produção literária, exerceu o cargo de Diretora do jornal O Primeiro de Janeiro e depois de Diretora do Teatro Nacional D. Maria II. Pertenceu à Academia de Ciências de Lisboa, Classe das Letras, tornou-se membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris e da Academia Brasileira de Letras.

Autora de uma vasta obra que inclui, para além dos romances, biografias romanceadas, contos, crónicas de viagem e literatura infantil, foi distinguida com os mais importantes prémios literários nacionais: Prémio Nacional de Novelística, em 1967; Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em 1966 e em 1977, Prémio PEN Clube e D. Dinis, em 1980, Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1984 e Prémio Cidade do Porto. Foi ainda distinguida com os prémios Vergílio Ferreira 2004, atribuído pela Universidade de Évora, pela sua carreira como ficcionista, e o Prémio Camões 2004.

“Agustina é, depois de Fernando Pessoa, o segundo milagre do século XX português e será reconhecida quando, com a distância, se puder medir toda a sua estatura, como a contribuição mais original da prosa portuguesa para a literatura mundial, ao lado do brasileiro Guimarães Rosa.”
António José Saraiva in Iniciação à Literatura Portuguesa (Gradiva, 1994).
“Ler Agustina é mergulhar num mundo de virtuosismo entre pensamento e ficção, destrinça entre instinto e alma, discurso cujos contornos podem assentar no histórico ou no jornalístico, mas o nuclear sempre se constrói rente ao humano individual, no que ele tem de insondável e nele se constitui como fonte de surpresa. A surpresa que Agustina faz falar através da análise da ambivalência humana, onde se jogam as oposições que formam o universo da interioridade. O mesmo é dizer que imaginar a literatura do século XX sem a obra de Agustina, seria amputá-la da sua fatia mais densamente dramática.”
Lídia Jorge in Revista Ler (Janeiro 2009)
Obras de Agustina Bessa-Luís disponíveis para empréstimo na rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil:
 
A memória de giz
A brusca
A memória de giz
A monja de Lisboa
A Sibila
A vida e a obra de Florbela Espanca
Adivinhas de Pedro e Inês
Agustina por Agustina
As fúrias : romance
As pessoas felizes
As terras do risco : romance
Camilo : génio e figura
Canção diante de uma porta fechada : romance
Contos Amarantinos
Contos impopulares
Conversações com Dmitri e outras fantasias
Crónica do Cruzado OSB.
Dentes de rato
Embarque em Brindisi
Eugénia e Silvina
Fanny Owen
génio e figura
Memórias Laurentinas : romance
O Dourado
O manto
O mistério da légua da Póvoa
O mosteiro : romance
O Principio da Incerteza : Jóia de Família
Os meninos de ouro : romance
Os quatro rios
Santo António
Um cão que sonha : romance
Vale Abraão : romance
Vento, areia e amoras bravas

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Divulgando o fundo local XIII: Descalço sobre a geada

“Descalço sobre a geada” é um livro que conjuga prosa e poesia e foi escrito a partir da experiência de vida do seu autor, António Tavares de Carvalho.

Publicado em 2001, “Descalço sobre a geada”, foi escrito de acordo com Tavares de Carvalho “como um grito de revolta contra todos aqueles que não respeitam minimamente os consagrados direitos da criança; revolta contra a passividade e indiferença das instituições públicas e privadas perante tão graves barbaridades. Não é mais de que um grito de revolta contra todos quantos contribuem desumanamente para a destruição dos homens e mulheres de amanhã.”

Os textos contidos no livro como indica o complemento do título “A criança que não foi. A infância que nunca teve” reflectem a desilusão do seu autor fase à sua própria infância enquanto “filho não desejado”, dando ao livro um tom autobiográfico.

Escrito numa linguagem simples, o autor transporta-nos para as suas vivências de infância através de uma narrativa que lemos com prazer.

Uma história de vida semelhante a muitas outras, onde a pobreza e a agreste natureza tornavam ainda mais duras as condições de vida de muitas crianças. Um retrato de Portugal nos meados do século XX.

DESCALÇO SOBRE A GEADA

Corre miúdo, corre
Descalço sobre a geada
Levanta os pésitos sujos
Voa sobre a camada

Do gelo que já não sentes
Nos dedos enregelados
Corre miúdo, corre
Ao vento dos enjeitados

Larga o prato vai depressa
Vai fazer este recado
Regressa que tenho pressa
Desse recado aviado

Comerás quando vieres
Se ainda assim o quiseres
Aproveita essa esteada
Sem uma refeição não se morre
Corre miúdo, corre
Descalço sobre a geada

O miúdo a tiritar
Com vontade de chorar
Lá vai ele a correr
Mas treme sem saber
Se é o frio da geada
Ou o medo da pancada
Que o faz assim correr

E num instante ele regressa
Correndo a toda a pressa
Com o recado aviado
Contente nessa alvorada
Esquecendo a geada
Pois não será castigado

Pobre miúdo coitado
Só por não ser castigado
Já sentiu satisfação
Esqueceu a manhã gelada
Não se lembrou da geada
Que pisou com emoção

Hoje é homem e não esqueceu
Tudo aquilo que sofreu
Nessa infância malfadada
Tudo quanto sofria
Quando nos campos corria
Descalço sobre a geada

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As filhas de Judas de Carol O'Connell

As Filhas de Judas de Carol O’Connell é um policial que nos prende desde a primeira página. Tendo como tema a pedofilia vai até ao mais profundo da alma humana no que ela tem de positivo e negativo criando assim zonas de choque que o leitor vive intensamente.

Por vezes o real e o imaginário entrelaçam-se de tal modo que a crueldade nos momentos mais dramáticos e a crueza com que os factos se apresentam levam o leitor para um mundo irreal, fantástico que a autora construiu com imensa sabedoria literária.

“ Tio Mortimer. – Ele ouviu as lágrimas na voz de Ali, quando voltou a falar. – Peço-lhe. Onde está a pequena?
- É dia de Natal, Ali. Ela está morta desde manhã cedo. Tu própria estabeleceste esse padrão, e muito…
- Encontraram uma peça de roupa de Sadie Green junto a um carro acidentado, esta manhã. Isso é estanho, não acha? Em todos estes anos ele nunca mostrou qualquer interesse pelas roupas da primeira criança raptada. Estava total e exclusivamente obcecado com a princesinha, o seu verdadeiro objetivo. Gwen Hubble ainda está viva e o tio sabe que sim.
- Ali, estás a extrapolar…
- Ouvi-o perguntar a Costello se tinham encontrado coisas de Gwen. Em todos os casos que eu relacionei, depois de ele ter parado de deixar os corpos na estrada, continuou a deixar partes da roupa da criança morta em locais onde a policia ou os pais pudessem encontrá-los na manhã do dia de Natal. Foi por isso que encenou aquele acidente. Não estava a tentar dissimular a causa da morte de Sorrel. Queria que alguém encontrasse aquelas peúgas roxas esta manhã – eram uma prova da morte de Sadie e não da morte de Gwen. Isto é uma violação do modelo. Houve qualquer coisa que correu mal. Ele ainda não matou Gwen Hubble. (…)"


“O mistério de um crime violento, uma estranha história de amor, uma alegoria complexa, uma tensão crescente que leva a um desfecho inesperado e surpeendente. Uma obra prima da literatura policial.” (retirado da contra capa do livro)

Nota: O livro encontra-se disponível para empréstimo na rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Novidade na Biblioteca: Russita: céu no rio e peixes nas árvores

Russita: céu no rio e peixes nas árvores é o primeiro livro de Eulália Gameiro, professora de Língua Portuguesa e Inglês no Agrupamento de Escolas de Arganil e professora bibliotecária. Trata-se de um conjunto de histórias que narram o quotidiano de uma criança no ano que antecede a sua entrada para a Escola Primária, ano em que a protagonista se prepara para abandonar a primeira infância.

De acordo com Ana Filomena Amaral, que apresentou o livro “é um livro de memórias e de histórias, que começam, cada uma delas, com um provérbio popular e que tem como protagonista a Clarita”, “a grandeza do livro, protagonizado por uma criança está em deixar margem ao leitor para descobrir o que fica oculto. E onde a palavra diz tudo”.

De acordo com a autora do livro que agora destacamos “é uma obra de fixação, que fantasiei, fazendo uma viagem de regresso à infância e onde recupero parte da tradição oral.”
 
“Difícil é rato fazer ninho, atrás de orelha de gato

A Charica era a minha gatinha. Não sei quem lhe deu o nome, porque quando nasci, já ela estava lá em casa. E que grande responsabilidade era ser gato, na minha casa! Um gato tinha de cumprir a principal tarefa que lhe competia: caçar ratos! E a Charica era muito competente. Não lhe escapava roedor que se aventurasse pela cozinha, em busca de pedaço com que saciar a larica; nem aquele que sorrateiramente rondasse o quintal ou se infiltrasse na capoeira das galinhas para rebuscar qualquer grãozinho de milho perdido ou resto de amassadura com couves e farinha…”

Nota: este livro encontra-se disponível para empréstimo na Biblioteca.

Leia, porque ler é um prazer!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Divulgando o fundo local XII: Maestro Alves Coelho

Maestro Alves Coelho: grande personalidade de Arganil
de Luciano Reis
 
João Rodrigues Alves Coelho nascido em Arganil em 1882, professor primário, autor e compositor, foi no seu tempo um dos principais autores de revistas para teatro e tem importância de destaque na história do teatro ligeiro português. Várias peças por ele criadas, tais como o Fado do 31, o Fado do ganga, o Dia da espiga ou ainda Giestas, de entre muitas outras produções, marcaram um período criativo de grande impacto na revista à portuguesa.

Luciano Reis, autor que há muito se dedica a investigação e estudo de personalidades artísticas portuguesas, publicou em 2009 a obra Maestro Alves Coelho: grande personalidade de Arganil em que dá a conhecer o grande compositor que Alves Coelho foi, apresentando os principais aspectos biográficos da sua vida, bem como a sua obra. De acordo com Luciano Reis, Alves Coelho será sempre lembrado como “um grande compositor que renovou o espectáculo, utilizando um notável e imbatível sentido de qualidade”.
 
Leia, porque ler é um prazer!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Livro do mês: O livro quebrado de Serge Doubrovsky

Um homem de cinquenta e sete anos, escritor, situa-se no tempo após ter visto um programa de televisão sobre o dia 8 de maio de 1945, seguido de debate sobre o que representou a guerra que ele viveu sem vê-la. E assim principia o seu novo romance.

A sua melhor crítica e primeira leitora lê os dois primeiros capítulos e faz-lhe uma cena de ciúmes. Ele escrevera sempre sobre as suas ex-mulheres – uma por romance – e ela resolve desafia-lo: se sempre ultrapassou as barreiras literárias inovando, por que não fazer um romance sobre o presente, sobre as suas vidas?

A partir de então seguimos a vida de um casal, o passado no singular ou no plural, os problemas de um romancista, da sua verdade romanceada, da personagem feminina que se reserva o direito de censura.

Após a morte repentina desta personagem, o romance continua o seu curso dilacerado, mutilado, à procura do porquê, à procura do passado a dois.

Fonte: badana do livro
Excerto:

“No momento de atravessar a porta, a ideia atinge-me. De repente volto-me, vou direito ao escritório dela. Fico de pé, imóvel. A minha mulher levanta tranquilamente a cabeça, olha-me calmamente, pergunta:
- O que é que se passa agora?
- O que é que se passa? Pois bem, olha. Apenas uma ideia, uma ideiazinha, para nos abrir o apetite. Querias que eu escrevesse sobre ti, sobre nós? Gostavas que eu contasse o nosso casamento? Como é que a coisa se passou na realidade?
- Mas fá-lo!
O seu olho límpido encara-me sem sombra de perturbação.
- Se eu dissesse, se eu dissesse…”


Nota biográfica:

De origem russa, Serge Doubrovsky nasceu em Paris em 1928, onde fez os seus estudos e se doutorou em letras. É escritor, crítico literário e foi professor universitário de literatura francesa.
O seu trabalho inclui obras de crítica literária e romances autobiográficos, que ele próprio apelidou de “autoficção”.
É autor de “Fils” (1977), “Un amour de soi” (1982) e “La vie l’instant” (1984), além desta surpreendente obra “O livro quebrado”, que lhe valeu a atribuição do prémio literário Médicis em 1989.

Leia, porque ler é um prazer!