terça-feira, 31 de março de 2009

Livro do mês: uma casa no fim do mundo de Michael Cunningham


O Autor

Michael Cunningham nasceu a 6 de Novembro de 1952, em Cincinnati, Ohio e cresceu em La Canada, Califórnia. Estudou Literatura Inglesa na Universidade de Stanford tendo, mais tarde, prosseguido os seus estudos na Universidade de Iowa. Actualmente, vive em Nova Iorque e lecciona na Fine Arts Work Center.


O livro:
As quatro personagens, cujas narrativas constroem este livro – Bobby, Jonathan, Clare e Alice – andam todas à procura de um sentido para a vida.
Bobby e Jonathan cresceram em Cleveland nos anos 60 e 70, filhos infelizes de pais infelizes, tornam-se amigos e embarcam numa amizade rara. Depois de terminarem os estudos secundários, Jonathan vai para Nova Iorque, Bobby fica em Cleveland onde após o incêndio da sua casa, vai viver com Alice e Ned, pais de Jonathan.
Clare entra na história na década de 80 em Nova Iorque. Ela e Jonathan partilham uma casa, e estão mais ou menos apaixonados, chegando a falar sobre a possibilidade de terem um filho juntos.
Quando Alice e Ned se mudam para o Arizona, Bobby vai também para Nova Iorque, e os três formam um estranho triângulo amoroso: Bobby e Clare estabelecem uma relação e têm um filho. Os três juntos decidem cria-lo como uma família.
Nenhuma das personagens consegue optar por apenas um dos amigos. Eles dependem uns dos outros para conseguirem encontrar o seu lugar no mundo.

Este livro explora o valor da amizade e da família, bem como a natureza do lar e do amor. Os personagens são vividos, duros e frequentemente egoístas, e tão humanos quanto qualquer um de nós.

Extracto:
“Não éramos amantes, mas quase. Ocupávamos a esfera superior do amor, onde as pessoas acarinham a companhia e excentricidades uma das outras, onde se querem bem. Uma vez que não éramos amantes no sentido carnal do termo, não tínhamos utilidade para os pequenos crimes. Clare e eu partilhávamos os piores segredos e os mais absurdos temores. Jantávamos juntos e fazíamos compras, avaliávamos as qualidades dos homens que se cruzavam connosco nas ruas. Em retrospectiva, diria que éramos como as irmãs das histórias tradicionais; as histórias em que a irmã mais nova e mais bonita não pode casar enquanto ninguém reclamar a mais velha e menos atraente. No nosso caso, contudo, éramos ambas as irmãs ao mesmo tempo. Partilhávamos uma vida de roupas, mexericos e auto-análise. Esperávamos, sem particular urgência, que alguém nos reclamasse para o outro, mais terrível, tipo de amor.
Vivemos juntos durante três anos no sexto andar de um prédio na East Third Street, entre as avenidas A e B, onde as mulheres porto-riquenhas discutiam em espanhol e os passadores de droga entravam e saíam constantemente dos apartamentos da cave. Rapazes drogados de uma beleza dilacerante dançavam nas esquinas ao som de grandes rádios. Vivíamos ali porque era barato e porque – como tínhamos admitido numa noite de bebedeira – o sítio nos parecia mais interessante do que as zonas mais seguras da cidade. Além disso devo confessar que encarava o bairro como uma fonte de anedotas a serem contadas numa vida melhor que estava ainda por vir. Disse-o a Clare, que me lançou um olhar céptico.
- A fé no futuro é uma virtude que caiu em descrédito, não achas? É como meter um navio numa garrafa. Percebes o que quero dizer? É admirável, mas de uma forma um pouco sinistra.
Clare tinha trinta e seis anos, mais onze do que eu. Vivia de acordo com diversos pressupostos, que defendia com calma, mas inabalável, veemência. Acreditava que James M. Cain era o maior escritor americano, que a sociedade tinha alcançado o apogeu em finais dos anos 30 e que não sobrara nenhum homem para uma mulher da sua idade e peculiaridades. Sempre que a contradiziam neste último tópico, Clare argumentava num tom de bem intencionada mas quase exausta paciência, como uma professora competente enfrentando o décimo milésimo aluno medíocre da sua carreira. (…)”

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia Mundial do Teatro, 2009

O Dia Internacional do Teatro celebra-se desde 1961 e foi instituído pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI).
A 27 de Março, um pouco por todo o mundo, a comunidade teatral e outras instituições culturais assinalam a data com acções diversas.
Uma das acções mais importantes é a circulação da Mensagem Internacional do dia Mundial do Teatro, escrita todos os anos por uma personalidade diferente. Esta mensagem pretende ser uma reflexão sobre o teatro e uma cultura de paz.
A mensagem para 2009 foi escrita por Augusto Boal, dramaturgo e ensaísta brasileiro, autor de inúmeras peças teatrais, bem como de ensaios sobre o teatro e considerado como uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional.

Na mensagem escrita para comemorar o Dia Mundial do Teatro de 2009, lê-se:

“(…) Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de ideias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro! (…)
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espectáculos da vida diária onde os actores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a plateia, palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida quotidiano. (…)
Actores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!”

Leia a mensagem na integra em:

http://www.iti-worldwide.org/picts/wtd_boal_port_original_2009.pdf

Na Biblioteca Municipal de Arganil também destacamos esta data. Visite-nos e descubra o que temos para lhe oferecer sobre esta temática! Desde já aqui ficam algumas sugestões de leitura:






terça-feira, 24 de março de 2009

Bicentenário do nascimento de Edgar Allan Poe






Celebra-se em 2009 o bicentenário do nascimento de Edgar Allan Poe, cuja obra ficou imortalizada pelo muito famoso poema “O Corvo”.

Edgar Allan Poe nasceu nos Estados Unidos da América, em 1809 e faleceu em 1949.

Frequentou a Universidade de Virgínia que abandonou no final do primeiro ano para ir trabalhar por ter contraído dívidas ao jogo.

Com uma vida muito atribulada, a maior parte da sua carreira foi ocupada como editor de jornais literários e autor de textos críticos, mas paralelamente editou mais de setenta obras de ficção, poemas e curtas narrativas em prosa como The Fall of the House of Usher, a mais conhecida.

Considerado o pai da literatura policial e grande mestre do fantástico, quase dois séculos depois da sua morte as suas histórias espantosas e negras, de uma extrema modernidade, continuam a impressionar leitores e criadores em todo o mundo.

O Jornal de Letras, Artes e Ideias nº 1003, edição de 11 de Março, apresenta-lhe em pormenor este escritor, com testemunhos de escritores e artistas e ainda com uma pré-publicação de alguns poemas de Edgar Allan Poe, que vão fazer parte da obra poética completa a ser publicada brevemente pela editora Tinta-da-China.

Se ainda não conhece este escritor, venha à biblioteca Municipal de Arganil e descubra um pouco mais sobre sua a vida e obra. Como afirma Rui Zink, “Poe é daquelas personagens em que a vida e obra se confundem.”


Algumas das obras de Edgar Allan Poe disponíveis na Biblioteca Municipal







Para além destes, muitos outros estão à sua espera na sala de adultos da Biblioteca Municipal Miguel torga!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Dois poemas inéditos

Comemora-se amanhã, dia 21 de Março, o Dia Mundial da Poesia! Para assinalar a data aqui publicamos dois poemas inéditos!

Nesta Primavera sinta e viva Poesia!

Sou escritor de palavras
Palavras ocas
E sem sentido
Empurradas pelo vento
Em todas as direcções
Sou escritor de ideias
Rebuscadas e perdidas.

Devagar
As palavras
Enchem folhas
E mais folhas de papel.

Chamas-me poeta.
Mas poeta não sou!

Sem data

Nesta noite silenciosa
Envolve-me nos teus braços
Reconforta-me
E em silêncio
Diz-me que é mentira!

Faz me acreditar
Que este caminho
Sinuoso e por vezes perigoso
É aquele que devo trilhar.

Envolve-me nos teus braços
E faz-me esquecer
As feridas que laceram
A alma e o coração.
Envolve-me…
E faz-me acreditar.

6 de Agosto de 2008

Miriella de Vocht

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai

Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos;
É ter dois olhos no mundo
Que vêem plos nossos olhos!

Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!

Ter um Pai! Nunca se perde
Aquela santa afeição,
Sempre a mesma, quer o filho
Seja um santo ou um ladrão;

Talvez maior, sendo infame
O filho que é desprezado
Pelo mundo; pois um Pai
Perdoa ao mais desgraçado!

Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!

Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!

Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!

Ter um Pai! Os orfãozinhos
Não conhecem este amor!
Por mo fazer conhecer,
Bendito seja o Senhor!

Florbela Espanca in Poesia 1918-1930
Lisboa: Dom Quixote, 1992

Feliz Dia do Pai!

Gosta da Poesia de Florbela Espanca? Visite a Biblioteca de Arganil e requisite um dos seguintes livros!







quarta-feira, 18 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia e Dia Mundial da Árvore

Para festejar o Dia Mundial da Poesia e da Árvore vai realizar-se na Biblioteca Municipal Miguel Torga, no dia 20 de Março pelas 21 horas um serão dedicado à Poesia e abertura da Exposição “Arvores de Interesse no Concelho de Arganil”.

Leitura de poemas e conversas à volta da Poesia, este serão é fundamentalmente um encontro de pessoas que gostam de ouvir e de dizer poesia.

Lembraremos os poetas que estão ligados ao Concelho de Arganil e outros grandes poetas da literatura universal. Admiraremos as árvores seculares que crescem em várias freguesias do Concelho e que são, também, poesia.

Como sempre nestes Serões Poéticos haverá, à mistura com poesia, o chá, os bolinhos e muita alegria.

Contamos com todos os leitores da Biblioteca Municipal Miguel Torga.


Na Primavera que se aproxima vamos viver a Poesia!

sexta-feira, 13 de março de 2009

15 de Março, Dia Mundial dos Direitos do Consumidor

A 15 de Março de 1962, o então Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, numa declaração ao Congresso norte-americano, afirmou: “Consumidores, por definição, somos todos nós”. “Eles são o maior grupo económico, e influenciam e são influenciados por quase toda a decisão económica pública ou privada. Apesar disso, eles são o único grupo importante, cujos pontos de vista, muitas vezes não são considerados.” Esta declaração terá levado ao reconhecimento internacional de que todos os cidadãos, independentemente da sua condição social ou económica têm direitos enquanto consumidores. O Dia Mundial dos Direitos do Consumidor foi assinalado pela primeira vez a 15 de Março de 1983, e em 1985 foi reconhecido oficialmente pela Assembleia-geral das Nações Unidas.

Os direitos do consumidor:

Direito à protecção da saúde e segurança;
Direito à qualidade dos bens e serviços;
Direito à protecção dos interesses económicos;
Direito à reparação de prejuízos;
Direito à informação e educação;
Direito à representação e consulta.

Estes direitos encontram-se consagrados na Constituição e na Lei de Defesa do Consumidor, bem como na generalidade dos textos comunitários.

O consumidor tem também deveres:

Dever de Solidariedade;
Dever da Consciência Crítica;
Dever de Agir;
Dever da Preocupação Social;
Dever da Consciência Ambiental;
Dever de Informar-se;
Dever de Bem Usar;
Dever de Resistência;
Dever de Cautela.
Documentos existentes na Biblioteca Municipal sobre esta temática:



DA PALAVRA À LEITURA

Quando um bebé nasce, não sabe falar; não conhece palavras e o cérebro ainda não está preparado para esta função.
O desenvolvimento neurológico do cérebro vai permitir articular as primeiras palavras formadas por sons muito simples, de poucas sílabas.
A partir daí as crianças “normais” sem problemas fisiológicos que de algum modo impeçam o normal desenvolvimento da fala, vão desenvolver a sua capacidade vocal.
Estudos recentes de conceituados especialistas no campo da neurofisiologia vêm alertando para a grande preocupação que os pais devem ter em ajudar os seus filhos a desenvolver as potencialidades intrínsecas ao ser humano, de articulação das palavras.
A criança não nasce ensinada, pelo contrário, aprende com tudo o que a rodeia. Aprende o bem e o mal; o positivo e o negativo. As palavras que começa a pronunciar são as palavras que ouve de alguém que lhe está próximo. Daí ser fundamental que a criança ouça palavras bem ditas, bem articuladas, em que os sons produzidos estão absolutamente correctos. A qualidade e a riqueza das palavras ouvidas vão contribuir para um desenvolvimento intelectual harmonioso da criança.
Sabemos que as grandes etapas da Humanidade se desenvolvem a partir do momento em que o homem começa a articular palavras e posteriormente quando consegue passar essa oralidade à escrita. Ao longo dos séculos o ser humano foi-se transformando fisiologicamente e culturalmente. Foi um longo caminho que nos conduziu onde estamos hoje.
A criança herda todo este percurso de contínua evolução da Humanidade, que se vai transmitindo e alterando de geração em geração e que as coloca num patamar de grande desenvolvimento intelectual, proporcionando as condições para que o caminho, percorrido durante milhares de séculos, continue.
É uma realidade que se traduz em vantagens, mas simultaneamente em desafios para as crianças do nosso tempo. Herdeiras de um código genético muito desenvolvido, elas enfrentam uma realidade muito exigente, necessitando de desenvolver competências intelectuais que permitam a sua integração no mundo de hoje.
Este trabalho e esta responsabilidade é da Família e da Escola, que deve criar as condições para que a criança cresça intelectualmente, desenvolvendo todas as capacidades que o percurso da Humanidade lhe oferece.
Daí a importância das palavras. Sabemos hoje que as palavras e a aprendizagem da leitura e da escrita são o melhor exercício para o desenvolvimento intelectual da criança. As ligações neurofisiológicas que se vão construindo no cérebro infantil e que lhe permite adquirir a agilidade de pensamento e de raciocínio, que o mundo de hoje exige, estão muito dependentes destas aprendizagens.
Vivemos na era da informação, mas para que esta se transforme em conhecimento não é só necessário tê-la ao alcance de um clique. É fundamental saber interpretá-la, interiorizá-la e transformá-la em nova informação, ou seja, em conhecimento.
Margarida Custódio Fróis

terça-feira, 10 de março de 2009

Livro do mês: Os apanhadores de conchas de Rosamunde Pilcher

A autora

Rosamunde Pilcher nasceu na aldeia inglesa de Lelant, na Cornualha, no dia 22 de Setembro de 1924. começou a escrever aos quinze anos. Em 1942, quando terminou os estudos, alistou-se no Serviço Feminino da Armada Real, e mais tarde trabalhou para o Ministério de Negócios Estrangeiros.
Rosamunde Pilcher escreveu para várias revistas e publicou mais de uma dezena de livros. Actualmente vive na Escócia, onde se dedica à literatura e à família.

O Livro

Os apanhadores de Conchas foi publicado pela primeira vez em 1987, o êxito que teve foi tal que a sua narrativa já foi adaptada ao teatro e à televisão, e traduzida em mais de trinta línguas.

A história narra a vida de Penélope e da sua família. Depois de ter sido atacada por um enfarte, Pénelope Stern, filha de um pintor famoso, começa a encarar a vida com outros olhos.
Pénelope Stern herdou do pai um quadro pelo qual tem grande estima. Através do filho descobre que este tem um grande valor, e este facto vai criar desequilíbrios na harmonia familiar. Interesseiros e pouco sentimentais Noel e Nancy, dois dos filhos de Pénelope, tentam convencê-la a vender o quadro. Porém Penélope não se deixa intimidar pelas suas pressões e resolve como que numa visita ao passado devolver o quadro ao lugar onde pertence, uma galeria de Arte em Porthkerris, na Cornualha, que o pai ajudara a fundar.

Tendo como elemento central o quadro, a narrativa salta constantemente entre presente e passado. Cada capítulo tem o nome de uma personagem e a pouco e pouco vai-se descobrindo o passado de Pénelope, a história das suas paixões e desgostos.

Esta é uma história cativante. A descrição das personagens, dos sentimentos e das paisagens é tão intensa que a dada altura parecem transportar-nos para dentro da própria história.

"Acho que nada terá o impacto que “Os Apanhadores de Conchas” teve. Tudo o que eu amo está nesse livro: boémios, pintores, pinturas, Cornwall, o que Londres era. Fiquei despojada quando o terminei. Tinha andado por esses sítios a falar com todos os meus e de repente tudo tinha terminado. Já não tinha ninguém com quem conversar. Tinham todos desaparecido. "
Rosamunde Pilcher
Extracto da Obra

“Quando finalmente enveredou pela ladeira que conduzia à galeria de arte, viu que a porta já se encontrava aberta. O jovem de calças de ganga e camisa de xadrez que se sentava atrás da secretária à entrada bocejou, como se tivesse passado a noite em claro, empertigou-se na cadeira e preparou-se para lhe vender um catálogo.
- Obrigada, mas não preciso – esclareceu Penélope. – Mais tarde, talvez fique com uma colecção de postais.
A tela de Os apanhadores de Conchas parecia aguardá-la, impressionante no seu novo lar, pendurada no centro da longa parede sem janelas. Ela cruzou a sala silenciosa e foi sentar-se no sofá, onde, muitos anos atrás, costumava instalar-se com o pai. Os minutos imediatos foram consagrados a um misto de contemplação e meditação.
Quando se verificou a interrupção e entrou outro visitante, pela porta atrás dela, quase não se apercebeu. (…)
Os passos acercavam-se. (…)
Incomodo? – Perguntou ele.
A voz familiar quebrou o estranho encanto. Ela recompôs-se, repeliu o passado e esforçou-se por exibir um sorriso.
De modo algum. Vivia um sonho.
- Quer que a deixe só?
- Não, não. – Ele usava uma camisola grossa de lã, e os olhos que a fitavam pareciam intensamente brilhantes, sem pestanejar. – Vim despedir-me de Os apanhadores de conchas. – Penélope mudou de posição e indicou o espaço a seu lado. – Faça-me companhia na minha comunhão solitária.”

A Leitura na Construção do Futuro

Era uma vez uma menina que vivia numa pequena aldeia perdida entre montanhas. O mundo estava muito longe e a menina só conhecia as pessoas da sua aldeia. Eram pessoas que trabalhavam nos campos, muito pobres. Naquela aldeia não havia livros. Poucas pessoas sabiam ler e mesmo aqueles que tinham aprendido a ler e a escrever na escola primária, não praticavam a leitura ou a escrita. Escreviam, com muita dificuldade, uma carta para os parentes que viviam na cidade, que tinham emigrado, ou estavam na guerra.
A menina detestou a Escola Primária. Os Professores eram pouco simpáticos e muito agressivos com a sua palmatória ou a cana com que partiam a cabeça dos meninos que não aprendiam ou se portavam mal. No entanto, a menina lá ia aprendendo a ler e a escrever e a decorar toda aquela parafernália de rios, montanhas, linhas de caminho de ferro, etc. Horrível!
No final do ano lectivo em que a menina frequentava a quarta classe, a Senhora Professora resolveu ir falar com os pais dela, para lhes dizer que a menina devia fazer a admissão aos liceus. Os pais ficaram muito contentes, porque gostavam que a sua menina fosse professora primária. Muito de má vontade lá foi fazer os exames de admissão aos liceus nos quais ficou aprovada com distinção. Mais uma razão para que fosse estudar. Tínhamos ali uma futura professora primária. A menina ficou furiosa e recusou-se terminantemente a ir frequentar o liceu que ficava na cidade mais próxima, longe da sua querida aldeia. Os pais insistiram, ameaçaram, mas foi em vão. A menina não queria ser professora e como não sabia que estudando poderia ser outra coisa, não quis arriscar. Ficou pela sua aldeia onde não havia livros, mas a menina também não lhes sentia a falta porque não os conhecia. Conhecia apenas os pequenos livros onde aprendera a ler e que nunca lhe tinham despertado muito a atenção.
A menina ficou livre na sua aldeia para fazer aquilo de que mais gostava: saltar de pedrinha em pedrinha pelos riachos de água cristalina, subir às árvores para ver os ninhos dos pássaros, ir com as mulheres que mondavam as searas ou apanhavam a azeitona, guardar as cabras e as ovelhas quando iam pastar, enfim, viver a natureza no que ela tem de mais belo.
Um Verão, a menina, já adolescente, foi passar umas férias a Lisboa a casa de uma tia, com os primos que tinham mais ou menos a sua idade. Aí pôde tomar contacto com uma nova realidade. Falou com outras pessoas, com jovens da mesma idade que estudavam. Viu livros nas montras das livrarias. Quando regressou viu que a sua aldeia era, afinal, uma triste aldeia sem livros.
A menina lembrou-se então, que na escola onde tinha estudado havia uma estante com livros. A estante estava sempre fechada. Ela nunca tinha lido um livro daquela estante. Soube depois que continha os livros da Biblioteca Popular, uma iniciativa do Estado Novo com o objectivo de desenvolver hábitos de leitura entre a população. Mas como leitura quer dizer, liberdade, novas ideias, imaginação, criatividade, era muito difícil que os hábitos de leitura se desenvolvessem num regime tão fechado e triste como era aquele. Por isso aquela estante se mantinha fechada e os livros não eram lidos.
Resolveu ir falar com a Professora que na altura ali leccionava e perguntar-lhe se seria possível emprestar-lhe alguns livros. A Professora era uma Senhora simpática que logo lhe deu autorização para a menina abrir a estante e escolher os livros que quisesse. Foi a descoberta de um mundo novo. Ali, ela encontrou livros que não conhecia, alguns muito interessantes, outros, demasiado enfadonhos, lhe parecia na altura, hoje diria que eram demasiado tendenciosos. A menina passou a ler sempre que tinha tempo e como tempo era coisa que lhe não faltava passou a ler muitas horas por dia. Aquela biblioteca rapidamente ficou exaurida do que mais interessante continha.
Entretanto a menina descobriu que na vila próxima da sua aldeia, havia uma Biblioteca Fixa da Gulbenkian. Que descoberta maravilhosa!
Ali os livros eram às centenas, senão milhares: romance, contos, aventura, poesia. Eça de Queirós: Os Maias, O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio; Hemingway; John Steinbeck; Camilo; A Condessa de Ségur; Alexandre Dumas, Jorge Amado e muito, muito mais. Era um nunca mais acabar.
O problema é que alguns dos livros tinham uma fita cor de laranja para lá do meio da lombada. Esses, o senhor encarregado dizia que não lhos podia emprestar, porque eram exclusivamente para adultos. Que chatice! Como é que poderia passar tal embaraço. A solução foi encontrar uma pessoa mais velha que requisitasse os livros como se fosse para si. Assim foi. Um amigo mais velho não se importou nada de a ajudar. Então aí é que foi ler!
A menina estava cada vez mais desgostosa de não estudar. Era um desejo tão forte! Mas como? Não tinha coragem de pedir a seu pai, pois ele ficou tão desgostoso quando ela se recusou ir para o liceu!
Numa noite de Natal, como todos os anos, a aldeia estava em festa. Um grande cepo de Natal ardia no largo e a Consoada estava pronta para festejar o nascimento do Menino. À meia-noite, o sino da pequena capela chamou para a missa do galo. A menina, agora já adolescente, foi assistir à missa como era de tradição. No final passou pela sacristia para cumprimentar o Sr. Padre. Este, olhando para ela a sorrir, disse-lhe:
-Ó rapariga, não sei o que andas a fazer, mas abriu uma nova escola na Vila e tu bem que podias começar a frequentá-la. Há, inclusive, ensino nocturno, se não quiseres ir de dia.
Foi como se a noite escura, de repente, ficasse iluminada com o sol mais brilhante. Mas, receosa, disse:
- Não sei se os meus pais irão concordar. Foi para eles um grande desgosto eu não ter ido estudar, quando eles queriam.
- Certamente que não se importam, disse o Sr. Prior. Ora vamos lá chamá-los e já falamos com eles.
Ao pai também se lhe abriram os olhos de alegria e logo concordou. Mal começaram as aulas, o milagre aconteceu.
Que maravilha que era todo aquele saber! Parecia que nenhum conhecimento lhe estava oculto. Todas as matérias do português à matemática, lhe pareciam familiares. Como, se ao longo daqueles anos só tinha lido literatura (contos, histórias, aventuras, policiais) poesia, biografias. Será que se aprende assim tanto lendo literatura? Os enredos bem estruturados, as palavras bem escolhidas e colocadas no sítio certo da frase, também podem ajudar a compreender outras matérias? Mas então, a leitura de prazer também é importante para o nosso futuro!
Assim parece, porque passados três anos a menina, agora já mulher, frequentava já o ensino secundário e nunca mais parou de estudar e de aprender coisas novas, para conhecer melhor o mundo, as pessoas e a natureza.

Margarida Custódio Fróis

segunda-feira, 9 de março de 2009

Breve reflexão (pessoal) sobre a importância da leitura


A leitura, tem nas últimas décadas suscitado muitos debates, e o aparecimento de muitos estudos, tanto sobre a sua importância, como sobre os hábitos de leitura das populações. Hoje em dia, é mais necessário do que nunca recorrer aos livros, pois eles permitem-nos um contacto próximo com os escritores de todos os tempos, que nos deram a conhecer a universalidade dos sentimentos, fixando-os em obras imortais e porque a Humanidade herdou através deles o conhecimento e a evolução do pensamento.

Em inícios do século XX, apesar de já existir a escrita, a transmissão oral detinha um papel fundamental, contudo, actualmente seria impossível imaginar a nossa sociedade sem a maravilhosa possibilidade da palavra escrita.

Hélia Correia, afirma no texto O elogio das palavras que: “quando deparo com um tema que dá adquirida a importância de qualquer coisa – assusto-me. Ainda que seja a importância da leitura”. Na verdade hoje em dia a leitura tornou-se uma moda e todas as pessoas sabem que ela é importante, contudo, não basta aceitar esse princípio, pois essa importância só lhe pode ser atribuída, quando a leitura é efectivamente praticada. Estudos revelam que a procura, ou seja o consumo do livro cresceu nas últimas décadas, mas em oposição outros estudos comprovam que a maior parte da população portuguesa não tem hábitos de leitura. O livro, é por demasiadas vezes considerado como um adorno, um objecto de status. O livro tem a conotação de “objecto de cultura”, o que não contesto, mas só assume esse valor quando utilizado, ou seja quando lido.

Muitas pessoas lêem um determinado livro porque este é “badalado” e atingiu os tops de venda. Ler não deve ser uma moda, mas sim um prazer, uma descoberta. Aquando a publicação do 1º volume do Senhor dos Anéis de Tolkien em filme, assistiu-se a uma procura desenfreada pela obra original, esta que já se encontra publicada desde a década de 50, elogiada desde o início pelos mais proeminentes críticos literários, que apesar disso, para imensas pessoas era desconhecida. Lembro-me, de ter sugerido a sua leitura a diversas utentes da biblioteca (antes de surgir nos ecrãs do cinema) e como em relação a tantas outras obras a reacção era do género: “tão grosso, com letras tão pequenas... deve ser uma seca!”. Mais tarde essas mesmas pessoas influenciadas por modas e tendências vieram ansiosamente à procura da obra em questão, o que foi uma surpresa para mim. Algo fez despertar nelas a vontade de ler, o que pode ser um princípio para que se tornem verdadeiros leitores.

O prazer de ler aprende-se e deve ser livre, mas acho que como pessoas “educadoras” devemos ajudar, e não impor, a sua descoberta. Considero que a educação detém um papel fundamental nesta descoberta e acho que se deve privilegiar o contacto da criança com o livro, o que não significa que todas as crianças se tornem leitores fervorosos. Eu adoro ler, adoro o contacto com o livro e tento ler sempre que posso, sentindo uma certa frustração quando o ritmo do dia-a-dia não mo permite. Desde muito cedo tive contacto com o livro. Frequentei a biblioteca a partir dos 3 anos e até aos 14 anos, todas as noites os meus pais me liam uma história ou um capítulo de um livro. Considero que estes aspectos foram muito positivos no meu desenvolvimento. Importa frisar, que embora de importância fulcral, não só a educação é responsável pela paixão pela leitura.

Por outro lado e também por experiência própria, sei que o gosto pela leitura não se adquire apenas na juventude. Ao longo da minha vida conheci várias pessoas que não liam ou manifestavam qualquer interesse pela leitura. Como leitora fervorosa que sou, tentei transmitir-lhes o que um bom livro nos pode proporcionar, e actualmente várias dessas pessoas lêem e lêem com prazer, tendo adquirido essa prática como um hábito.

A leitura reveste uma grande importância. Um dos aspectos que lhe confere esta importância é o facto de ser uma ginástica da inteligência. A nossa mente deve ser treinada e a leitura é um excelente exercício, ela proporciona-nos um alargar do horizonte, pois coloca-nos em contacto com outros mundos, outras mentes e sobretudo porque através da leitura alcançamos a nossa liberdade de escolha. A escolha é apenas possível quando atingimos a capacidade de relativização, esta que é muito importante no combate aos estereótipos, às ideias pré-concebidas. Muitas vezes caímos no erro de assumir posições dogmáticas, sem conhecer todas as perspectivas sobre um determinado assunto.

Ler é viajar... não só pelo prazer, mas também pela importância que a própria leitura detém: ela significa acesso à informação, enriquecimento do imaginário, acesso à formação, combate ao estereótipo, desenvolvimento da capacidade de compreensão e de expressão, fomenta e educa a sensibilidade, provoca e orienta a reflexão e cultiva a inteligência. Mas ler deve ser sobretudo uma escolha livre, pois só assim conseguiremos apreender a sua real importância.
Miriel de Vocht

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher - 8 de Março


Mulher
Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil…
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.

Mário de Andrade
In 50 poetas africanos

quarta-feira, 4 de março de 2009

Leituras Cruzadas

Acompanhando o evoluir das novas tecnologias e o uso da Internet para a difusão da informação, bem como para criar uma maior proximidade e interactividade com os diversos públicos da biblioteca, a Biblioteca Municipal de Arganil, tem a partir deste mês um blog.

O blog Leituras cruzadas tem como principais objectivos: a divulgação do fundo documental da biblioteca e a partilha de experiências de leitura, tentando assim aumentar o índice de leitura da população do concelho.

Este Blog surge ainda em complemento do projecto Leituras com Asas, que será lançado em Abril aquando às comemorações do Dia Mundial do Livro.

De acordo com a definição de blog, este é actualizado frequentemente e permite a interactividade com os seus visitantes, através da possibilidade da publicação de comentários.

A Biblioteca aceita a participação, com textos sobre a temática, de qualquer utilizador, basta fazer o envio dos mesmos para o seguinte endereço de correio electrónico: adultos@bib-arganil.org