terça-feira, 31 de março de 2009

Livro do mês: uma casa no fim do mundo de Michael Cunningham


O Autor

Michael Cunningham nasceu a 6 de Novembro de 1952, em Cincinnati, Ohio e cresceu em La Canada, Califórnia. Estudou Literatura Inglesa na Universidade de Stanford tendo, mais tarde, prosseguido os seus estudos na Universidade de Iowa. Actualmente, vive em Nova Iorque e lecciona na Fine Arts Work Center.


O livro:
As quatro personagens, cujas narrativas constroem este livro – Bobby, Jonathan, Clare e Alice – andam todas à procura de um sentido para a vida.
Bobby e Jonathan cresceram em Cleveland nos anos 60 e 70, filhos infelizes de pais infelizes, tornam-se amigos e embarcam numa amizade rara. Depois de terminarem os estudos secundários, Jonathan vai para Nova Iorque, Bobby fica em Cleveland onde após o incêndio da sua casa, vai viver com Alice e Ned, pais de Jonathan.
Clare entra na história na década de 80 em Nova Iorque. Ela e Jonathan partilham uma casa, e estão mais ou menos apaixonados, chegando a falar sobre a possibilidade de terem um filho juntos.
Quando Alice e Ned se mudam para o Arizona, Bobby vai também para Nova Iorque, e os três formam um estranho triângulo amoroso: Bobby e Clare estabelecem uma relação e têm um filho. Os três juntos decidem cria-lo como uma família.
Nenhuma das personagens consegue optar por apenas um dos amigos. Eles dependem uns dos outros para conseguirem encontrar o seu lugar no mundo.

Este livro explora o valor da amizade e da família, bem como a natureza do lar e do amor. Os personagens são vividos, duros e frequentemente egoístas, e tão humanos quanto qualquer um de nós.

Extracto:
“Não éramos amantes, mas quase. Ocupávamos a esfera superior do amor, onde as pessoas acarinham a companhia e excentricidades uma das outras, onde se querem bem. Uma vez que não éramos amantes no sentido carnal do termo, não tínhamos utilidade para os pequenos crimes. Clare e eu partilhávamos os piores segredos e os mais absurdos temores. Jantávamos juntos e fazíamos compras, avaliávamos as qualidades dos homens que se cruzavam connosco nas ruas. Em retrospectiva, diria que éramos como as irmãs das histórias tradicionais; as histórias em que a irmã mais nova e mais bonita não pode casar enquanto ninguém reclamar a mais velha e menos atraente. No nosso caso, contudo, éramos ambas as irmãs ao mesmo tempo. Partilhávamos uma vida de roupas, mexericos e auto-análise. Esperávamos, sem particular urgência, que alguém nos reclamasse para o outro, mais terrível, tipo de amor.
Vivemos juntos durante três anos no sexto andar de um prédio na East Third Street, entre as avenidas A e B, onde as mulheres porto-riquenhas discutiam em espanhol e os passadores de droga entravam e saíam constantemente dos apartamentos da cave. Rapazes drogados de uma beleza dilacerante dançavam nas esquinas ao som de grandes rádios. Vivíamos ali porque era barato e porque – como tínhamos admitido numa noite de bebedeira – o sítio nos parecia mais interessante do que as zonas mais seguras da cidade. Além disso devo confessar que encarava o bairro como uma fonte de anedotas a serem contadas numa vida melhor que estava ainda por vir. Disse-o a Clare, que me lançou um olhar céptico.
- A fé no futuro é uma virtude que caiu em descrédito, não achas? É como meter um navio numa garrafa. Percebes o que quero dizer? É admirável, mas de uma forma um pouco sinistra.
Clare tinha trinta e seis anos, mais onze do que eu. Vivia de acordo com diversos pressupostos, que defendia com calma, mas inabalável, veemência. Acreditava que James M. Cain era o maior escritor americano, que a sociedade tinha alcançado o apogeu em finais dos anos 30 e que não sobrara nenhum homem para uma mulher da sua idade e peculiaridades. Sempre que a contradiziam neste último tópico, Clare argumentava num tom de bem intencionada mas quase exausta paciência, como uma professora competente enfrentando o décimo milésimo aluno medíocre da sua carreira. (…)”

2 comentários:

  1. Parece-me interessantíssimo. Logo que terminar o que estou a ler vou requisitar este na biblioteca.

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  2. De facto a obra de Cunningham é muito interessante. A forma como escreve é rica e tão envolvente que acabamos por nos sentir parte da história. Cunningham e também autor de "horas" e de "uma casa no fim do mundo". Já li esses três, e agora tinha curiosidade de ler o "Dias Exemplares", publicado em 2005 pela Gradiva! Porém não está disponível na Biblioteca!

    Boas Leituras!

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